Leandro Colling, gaúcho, 38, vive em Salvador há 13 anos e é professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos e do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Possui graduação em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1996), mestrado (2000) e doutorado (2006) em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela (UFBA) e pesquisa as relações entre sexualidade, gênero e a cultura. Nesta semana, ele está promovendo um evento em comemoração aos 40 anos da revolta de Stonewall – bar gay nova-iorquino onde, em 1969, gays enfrentaram a polícia e partiram em busca dos seus direitos.
Por que o aniversário do Stonewall é uma data a se comemorar aqui no Brasil?
Queremos comemorar essa data para pensar o que aconteceu no Brasil depois disso e não para avaliar o movimento gay americano. A revolta de Stonewall é considerada um marco da criação do movimento gay do mundo. Nossa pergunta, então, é: o que aconteceu aqui no Brasil depois disso? Em que pé estamos, tanto nos estudos sobre a comunidade LGBT e sobre as políticas públicas e identitárias? Essas são as questões que deverão ser respondidas nos três dias do evento.
Qual visão espera que os espectadores tenham pós-evento?
Eu espero que as pessoas tenham, além de mais informação sobre os estudos e sobre as políticas LGBT, condições de avaliar de forma mais crítica a realidade que nos cerca e de pensar sobre o rumo que estamos seguindo para, quem sabe, modificá-lo.
Acredita que, hoje, para se ter a identidade respeitada, é necessário usar força?
De certa forma, sim. Se os gays hoje não fizerem como os do bar de Stonewall, não se pronunciarem, das mais diversas formas, sobre as atrocidades que ainda hoje são cometidas para com a nossa comunidade LGBT, tudo vai ficar na mesma situação. Mas, podemos pensar em como se dará essa visibilidade, quais estratégias serão usadas, quais políticas e projetos serão priorizados.
Este ano ocorreu a 9° Parada Gay de Salvador e a comemoração dos 30 anos do GGB. Por que na semana da Parada não teve algum evento de cultura gay? Será por falta de organização dos representantes ou por falta de interesse da comunidade LGBT?
O GGB fez uma atividade em comemoração aos seus 30 anos e o Diadorim, um grupo de pesquisa e extensão da Uneb, também organizou um evento para tratar sobre homofobia nas escolas. O que não tivemos é uma semana de mobilização, via eventos culturais e artísticos, para preparar a cidade para a parada. Isso realmente não teve, ao contrário do que ocorre em outras cidades. Eu penso que esse deveria ser um papel do GGB, que organiza a parada. Hoje, o GGB apenas faz a parada, acho isso problemático, pois perde-se uma ótima oportunidade. Na verdade, o GGB anda isolado na organização da parada. Em outras cidades, como São Paulo, quem organiza é um coletivo, que, inclusive, é eleito para tal.
Sabemos que você pesquisa homossexualidade nas telenovelas brasileiras. Como vê essa representação na TV hoje?
Eu tenho me preocupado em como as telenovelas têm criado uma representação dos gays e lésbicas nos mesmos moldes das representações da vida dos casais heterossexuais. Penso que está em construção um novo “estereótipo” gay, o que faz com que apenas os gays de classe média, brancos, que querem casar e ter filhos, masculinizados, apreciadores de bons vinhos, na moda e malhados sejam aceitos em nossa sociedade. Eu considero essas representações tão problemáticas quanto as da “bicha louca e afetada” dos programas de humor.
Ser heteronormativo é uma imposição da sociedade e a mídia vem contribuindo com isso e tem feito com que muitas pessoas olhem a homossexualidade com outros olhos. Isso é verdade ou uma maneira de camuflar a situação?
A heteronormatividade é tão poderosa que ela incide sobre todos nós. O que as novelas parecem ter descoberto é uma forma de incluir casais gays e lésbicas nas telenovelas sem chocar os telespectadores e a sua heteronormatividade. Assim, deixamos de ter a representação quase hegemônica da “bicha louca e afetada” e passamos a ter outra representação, a que inclui os personagens não-heterossexuais dentro da heteronormatividade. Assim, esses personagens LGBT praticamente não se diferenciam dos heterossexuais. Eu considero as duas formas de representação muito redutoras.
O que tem a dizer sobre o comentário do autor de novelas Silvio de Abreu, quando afirmou que os atores gays devem ficar no armário?
Eu sempre defendo que quem deve abrir ou não o armário é o dono do armário. Nenhuma outra pessoa tem o direito de dizer sobre outra algo tão pessoal. Cada um sabe o momento e porque está ou não abrindo o armário. Além disso, é falsa a idéia de que uma vez saindo do armário a gente se livra dele. O sujeito se livra do armário para uma pessoa ou pequeno grupo, mas quando sai na rua já estará, em geral, sem querer, no armário de novo, porque todos presumem que somos ou devêssemos ser heterossexuais. Eis mais um dos grandes poderes da dita heteronormatividade.
“Está em construção um novo estereótipo gay”
13/09/2010 por Deivide Souza
Super interessante a reportagem, mais ainda o seu conteúdo. Aos envolvidos meus parabéns!!
Olha o que penso sobre esta questão da homossexualidade é o seguinte: enquanto encararmos os homossexuais como seres doentis ou de forma maléfica, estamos regredindo no processo evolutivo. Percebam que é algo tão peculiar que nem mesmo a ciência com seu alto grau de conhecimento foi capaz de explicar sua possivel causa.
Na verdade apenas quem é, sabe no mais intimo a necessidade de amar uma pessoa do mesmo sexo e é apenas isso que fazemos amar, amar e ser amado. Aliás deveria ser o norte da humanidade amar e ser amado, assim viveriamos numa sociedade mais harmonica e humana.
Pois, seja lá qual for o estereótipo externo que se crie do homossexual, masculo ou afeminado, ele sempre será homossexual. Penso que a grande discussão não deveria partir desse ou daquele estereótipo gay, mas sim do humano que condicionalmente nasceu para amar, respeitando sua forma e individualidade.
maravilha de entrevista e de pauta, fica a dica para os homossexuais, e uma dica: poderia se escrever a cada quinzena noticias sobre o mundo gay… precisa-se normalizar essa retórica que muita gente discrimina.
Bom nível de perguntas e respostas… Pautada no respeito e na produção de conhecimento de tal fato… excelência seria o que se entende pelo nível do debate!