Ivandilson Miranda Silva*
Época de eleições, momento de festa ou de reflexão? Aqui no Brasil tudo se transforma em comemoração. É lavagem disso, lavagem daquilo, a cidade vive um cotidiano de carros de som com jingles no último volume (muitos são horríveis), parece que os candidatos levam á sério a máxima do cantor Marcelo D2 nas suas apresentações: “VAMO FAZER BARULHO AÍ GENTE”.
O que menos se discute são as idéias dos postulantes ao parlamento e ao executivo. Quando acontece algum debate, as propostas defendidas são mirabolantes, coisas do tipo: “no meu governo, o problema da violência será resolvido com a presença efetiva das policias nas ruas”, “ no meu governo, a educação será tratada de forma respeitosa, o professor será valorizado”, “no meu governo, você não vai precisar sair de sua casa na madrugada para solicitar uma consulta num posto de saúde”, “no meu governo, gente será tratada como gente”. O meu governo passou e a vida do povo não mudou.
Será que todo candidato tem uma “DISNEYLÂNDIA” na cabeça? Por que propor ilusões? Fica mais fácil para ganhar o eleitor? Por que a política partidária tem uma péssima reputação na sociedade por ser caracterizada como o espaço da corrupção e dos enganadores que prometem e não cumprem? Será que (também) não “Disneyzalizamos” os candidatos, pois em alguns casos sabemos que aquela proposta não se sustenta?
O contexto eleitoral com todas essas questões acaba sendo o espaço da fábula, pois o candidato propõe o irrealizável e o eleitor (não são todos é claro!) embarca nessa viagem mítica, pois precisamos de um super-herói para nos defender, o grande líder para nos representar (bom debate esse sobre representatividade). Tem candidato que quer ser pai, tem candidata que quer ser mãe, tem candidato para todos os gostos. Assim, a eleição continua no âmbito da festa, da fantasia, a política partidária perde o sentido e política é a relação que estabelecemos com os problemas da cidade, somos animais políticos segundo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C). Eles (os candidatos) são políticos partidários, uma forma de fazer política, nós somos cidadãos e mesmo não participando de um partido podemos opinar e organizar ações para inverter determinadas lógicas no parlamento e no executivo.
É bom pensar e ter os pés no chão e não viajar demais, pois as principais reformas que devem alicerçar a nossa “democracia” ainda não foram feitas, nem pelo governo do PSDB (FHC – 1995-2002), nem pelo governo do PT (LULA – 2003-2010). Questões como: Reforma Tributária, Reforma Política, Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista, estão no papel e os deputados, senadores, ministros, prefeitos, governadores e o presidente não se entendem por conta das divergências “ideológicas” em torno da condução do nosso Estado.
Se as principais mudanças não acontecem, ficamos reféns das pequenas transformações que parecem muita coisa, mas não é. Já temos condições e maturidade suficiente para sairmos da fantasia, pois o eleitor brasileiro precisa deixar de ser “PATETA” e não votar mais em candidato “TIO PATINHAS”.
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*Professor de Ética Política e Sociedade e Homem, Cultura e Sociedade na Unime- Salvador. Professor de Filosofia e Sociologia na FBE (Fundação Baiana de Engenharia).
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