A montagem Ogum, deus e homem, em cartaz no Teatro Martim Gonçalves, narra a história da divindade yorubá Ogum (intepretado por Val Perré) e revela a grandiosa trajetória do “senhor da tecnologia”.
Tem como ponto de partida seis Itans (lendas) do orixá e dá enfoque maior ao seu amor pela humanidade e por sua Oyá (vivida por Jussara Mathias), além da sua força como grande engenheiro do universo.
Como nada é mais humano que amar, Ogum amou e, por amar, foi até as últimas conseqüências: chegou a procurar o orixá Exu, para quem pediu que o transformasse em humano.
Não podendo suportar a culpa por uma grave injustiça que cometeu (ele matou seus súditos sem motivos), Ogum voltou ao Orum e pediu a Olodumarê, o Senhor de todos os destinos, que o recebesse de volta por não ser mais digno de conviver entre os humanos. Assim, ele foi aceito e incumbido de guiar a humanidade e abrir seus caminhos e prover o seu sustento.
O texto da montagem é bem escrito, com conhecimento da temática. Ao mesmo tempo em que é futurista, a peça deixa para trás, em boa parte, a ancestralidade. A sonoplastia é adequada – música yorubá junto com música eletrônica – com canções cantadas pelo próprio elenco – mas faltou mostrar o lado religioso do Candomblé, com seus ritos. No entanto, isso não prejudica a trama, pois sente-se, em todo o tempo, um cheiro de incenso no teatro.
As luzes em variados tons azuis no palco, metal com formas geométricas e um grande cubo também de metal vazado é uma homenagem ao deus do ferro, mas o ponto alto fica por conta da briga entre Ogum e Xangô (Deilton José), quando Oyá escolhe apenas Xangô. Nesse momento, Jussara Mathias perde um pouco a força do seu personagem. Em compensação, Val Perré, bem como Deilton José, cobrem essa lacuna com o humor sarcástico de Xangô.
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